A PROVA QUÁDRUPLA ROTÁRIA
Alberto Bittencourt*
De tudo o que pensamos, dizemos ou fazemos:
É a verdade?
É justo para todos os interessados?
Criará boa vontade e melhores amizades?
Será benéfico para todos os interessados?
O Rotary foi fundado em 1905 numa época em que a palavra empenhada tinha um valor muito forte. O que prevalecia, acima dos contratos escritos e assinados, era o acordo de cavalheiros, com a única garantia do fio de bigode. O que se dizia "apalavrado" era sagrado, seu cumprimento, questão de honra. Era o código de ética em vigor numa Chicago conturbada pela corrupção e pela violência.
Uma das razões da longevidade do Rotary é justamente a ética. Em questões de ética o Rotary é inflexível, imutável. O Rotary de hoje é igual ao de 1905, quando foi fundado por Paul Harris. A ética em Rotary é um princípio que não pode ter fim, e é graças aos seus elevados padrões de ética, que o Rotary ultrapassou os 100 anos, e aspira alcançar mais cem anos de sucesso, chegar ao seu segundo século de existência.
A Prova Quádrupla Rotária foi concebida em 1932, quando a economia americana ensaiava se recuperar da quebra da bolsa de valores de Nova York, ocorrida em 1929. Seu criador foi Herbert Taylor, presidente de uma fábrica de panelas de alumínio. A companhia estava em situação pré-falimentar, quando, através da aplicação dos quatro quesitos, Herbert Taylor promoveu uma mudança no relacionamento com empregados, clientes, fornecedores. A situação se reverteu e a empresa tornou-se uma multinacional forte, importante, acompanhando a recuperação da economia americana, se inserindo dentro dessa recuperação.
Não podemos afirmar que a Prova Quádrupla seja um código ou tratado de ética, pois se trata apenas de uma reflexão, uma indagação, um questionamento sobre o que nós pensamos, dizemos e fazemos, nada mais do que isso.
A Prova Quádrupla está para um código de ética assim como uma jangada está para um transatlântico. Uma jangada, na sua simplicidade, é perfeita, não afunda, pode passar um tsunami que ela continua a flutuar. Já o maior transatlântico, o mais perfeito, como se dizia ser o Titanic em 1912, um navio impossível de afundar, não passou da primeira viagem.
A simplicidade da Prova Quádrupla é como a jangada, fácil, simples, não tem nada a ver com tratados complexos, porque quanto mais complexo é um tratado, mais difícil de ser aplicado.
A Prova Quádrupla pode ser comparada a quatro peneiras de malhas diferentes.
Pega-se “Tudo o que pensamos, dizemos e fazemos” e coloca-se na primeira peneira: “É a verdade?” Pergunta simples, que não admite discussão.
A gente ouve por aí, qualificações sobre a verdade. Já chegaram até a dizer: ”verdade verdadeira”. Toda verdade é sempre inquestionável, insofismável, não é como aquela música: “mamãe, estou ligeiramente grávida”. Ou está ou não está. Assim é a verdade. Ou é verdade, ou não é, não existem meias-verdades.
Agora, existem profissionais que não aceitam a Prova Quádrupla, porque não consideram a verdade como essencial. Por exemplo, um mau político, para o qual a verdade muitas vezes é deturpada em favor de seus interesses eleitorais. Um gestor que malversa fundos públicos não comunga com a Prova Quádrupla, já no seu primeiro quesito, porque honestidade é sinônimo de verdade.
Porém, a verdade absoluta mesmo, essa só pertence a Deus, pois que a nossa percepção, limitada pelos cinco sentidos, nos permite conhecer apenas uma parte relativa dos mistérios da vida.
Passou na primeira peneira, vem a segunda peneira, de malhas mais estreitas: “É justo para todos os interessados?”. Eu encaro a justiça como uma coisa que deva ser sempre objetiva, uma relação de causa e efeito. Se é justo em determinado assunto, tem de ser justo para todos os interessados. Se você considera a justiça como algo subjetivo, como algo que não seja uma relação de causa e efeito, o que é justo para uns, poderá não ser para outros. O que era justo para Hitler não era justo para os povos perseguidos, o que era justo para os ingleses no tempo de Gandhi, não era justo para os indianos.
Depois dessa peneira, vem a terceira peneira: “Criará boa vontade e melhores amizades?” Aí está a essência do Rotary: a solidariedade, a mútua cooperação, o companheirismo. Tudo o que nós fazemos deve somar. A solidariedade une, a desarmonia, o desentendimento, separam. Tudo o que gera divisão não está de acordo com a Prova Quádrupla.
Por fim, vem a quarta e última peneira: “Será benéfico para todos interessados?” Essa é a finalidade do Rotary: gerar o bem.
Numa sociedade em que prevalece o egoísmo, o egocentrismo da lei de Gerson "sou brasileiro, gosto de levar vantagem em tudo", cada um quer tirar proveito maior, vantagem maior, não importando os meios, lícitos ou ilícitos. Não é isso que a Prova Quádrupla prescreve.
Passou nas quatro peneiras, pode fazer, pode aplicar. Se levarmos a Prova Quádrupla para todas as nossas ações, no trabalho, nas relações familiares, nas relações comerciais, teremos a certeza de estarmos sempre agindo corretamente.
* Alberto Bittencourt é engenheiro, rotariano e ativista social. Pertence ao Rotary Club Recife Boa Viagem. Ex-Giovernador do Distrito 4500, em 2004-05.